Acidente Rodoviário ou Crime Rodoviário? (Reflexão)

Talvez a uns meses atrás não estivesse interessada nesse assunto, mas quantas vezes ouvimos notícias de pessoas que faleceram por neglicência rodoviária?

Segundo o Wikipedia: Acidente Rodoviário define-se como um evento inesperado que ocorre em uma via envolvendo veículos ou entre veículos e pedestres ou animais, ou ainda, entre veículo e qualquer obstáculo presente nas proximidades desta via (postes, construção, árvores, etc).

Muitos apontam como principal (culpado) as nossas vias, alguns o consumo excessivo de álcool (imprudência humana), outros culpam até os lesados pelo facto de não usarem os cintos de segurança, mas quem é o real culpado?

Deixo aqui uma frase da activista e Especialista em Trânsito Roberta Torres, para reflexão:

" Aceitar que um crime de trânsito, mesmo que não cause morte, seja chamado de acidente – como estamos acostumados a tratar – fortalece a ideia de ser algo casual, eximindo de culpa e de punição aqueles que o cometeram. ". Roberta Torres

Segundo a Direcção Nacional Viação e Trânsito os acidentes rodoviários em Angola têm diminuído em relação a anos anteriores, mas mesmo assim é a segunda maior causa de morte depois da Malária, o que conclui-se que devemos fazer mais.

Quantos familiares, amigos, conhecidos perdemos em acidentes rodoviários? Todos anos morrem milhares de pessoas nas nossas estradas e muitas ficam com mobilidade reduzida. Em Julho de 2018 o humorista Kotingo e o músico Gerilson Insrael sofreram um grave acidente na via Luanda-Bengo, Gerilson sofreu algumas lesões, mas o humorista Kotingo estava em estado crítico resultando na amputação de um dos seus membros superiores. Caso semelhante a da modelo angolana Lumenni Bombo que também foi-lhe amputada seu braço directo em 2013 devido a acidente de viação ocorrido quando saía de Namibe para Luanda.

Dou exemplos de figuras publicas que perderam a sua vida ou ficaram com mobilidade reduzida porque é mais fácil apelar aos nossos corações com pessoas que de certa forma conhecemos, mas existem milhares de casos, visto ser a segunda maior causa de morte e a primeira maior causa de deficiência física em Angola. Só de 2008 a 2017 registou-se um total de 140 mil acidentes rodoviário, com 17 mil mortos e 130 mil feridos, segundo dados da Direcção Nacional de Viação e Trânsito. E só esse ano de Janeiro a Fevereiro registou-se mais de 174 mortes.

Ainda em Maio desse ano aconteceu um acidente no Kwanza Sul, um autocarro que transportava passageiros de Benguela a Luanda despistou e capotou provocando a morte de 2 pessoas (mãe e filha) e lesões nas outras 36 pessoas, 5 dos quais perderam os seus membros superiores.

São acidentes diferentes, com causas diferentes mas a realidade é a mesma, podemos dizer que aconteceram devido a falta de iluminação ou má condições das estradas e culpar o Estado, podemos culpar o motorista pela falta de prudência e os passageiros por não se precaverem. A realidade é que devemos punir os responsáveis e criar mecanismos para que não volte acontecer.

Outro ponto importante é nos consciencializarmos sobre a realidade em que vivemos, aprendermos a respeitar a vida, e nos disponibilizarmos a nos colocarmos no lugar de alguém, desta forma teremos uma condução mais responsável, mas enquanto agirmos pela lei do “cada um por si” e de que somos superiores, como demonstramos todos os dias nas nossas estradas, quando furamos o trânsito, quando numa faixa de rodagem com apenas 2 vias de trânsito formamos 4 a 5 vias, quando ignoramos os sinais e regras de trânsito, e conduzimos imprudentemente ou sob efeito de álcool, e continuarmos a dizer que foi "apenas" um acidente com certeza nada irá mudar. Isso é um apelo a sociedade, uma reflexão sobre os nossos actos, a maioria de nós em algum momento da vida estará de certa forma "responsável" pela vida do outro, como condutor, peão e passageiro.

Por Irís

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